domingo, 10 de abril de 2011

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12 mortos. 190 milhões de feridos. Foi essa a capa do Diário de Pernambuco sobre a tragédia em Realengo. Referências a Columbine, fotos estampadas nos jornais, especialistas criando hipóteses, como ele agiu, como a mídia deve agir, o que deveria ou não estar na capa dos jornais, como isto poderia interferir negativamente,servir de espelho,causar o efeito contrário; No fim das contas um fato: a situação trágica não poderia assim ter sido sem uma teia de condições emaranhadas entre o desequilíbrio doentio do assassino, abandonos na vida e mais algumas marcas que fizeram ele ser quem foi. A facilidade com que se compra uma arma? A falta de um segurança na escola? Transformar nossos colégios em réplicas americanas? Detectores de metal? Fundamentalismo islâmico? Bullying? Qual foi a causa? O que fazer para evitar? Ah, temos um outro fato: a nossa ânsia, quase que automática de simplificar e unificar o problema. Incomoda a conclusão comum à qual sempre chegamos, incomoda a angústia acabar no pensamento impotente. Dói admitir que quem estampou as capas do jornais foi fruto da nossa sociedade. Foi doença, foi biológico, foi desequilíbrio, foi caminho livre para fazer o que fez. Mas foi cria nossa. Foi a mágoa acentuada pelo tratamento que demos a alguém quando ele ainda estava em formação. Até quando isso pode ter interferido? Quanto cada uma das pessoas que passaram por sua vida poderiam ter feito para que a história seguisse um novo rumo? Mais simplificação dos problemas? Mais foco à um erro que seria a falta de precaução nossa? E já é certo, isso? E pesou tão pouco o tratamento e a exclusão sofrida, num fim trágico? Está perfeitamente claro e óbvio que nossas cicatrizes não nos transformam em perigo à sociedade, em assassinos em potencial. Está claro que isso não é único, bastante, suficiente. Ninguém nega o desequilíbrio de alguém que pode ter agido desta forma. Mas até os pragmáticos, os que crêem em uma fórmula em que vigilância é igual à segurança, até eles, simplesmente não podem ignorar que excluímos. E que perdemos de vista as conseqüências que este tratamento pode gerar na vida de uma pessoa. Saber que desequilibrados usam religião, se apegam à realidades paralelas e inventam pretextos para agir não anula o peso da exclusão, do que é a intolerância ao diferente. Não adianta. Não temos vocação para réplica dos EUA. Isso não nos deixa imune à nada. Até quando vamos simplificar as coisas? Até quando vamos exteriorizar o núcleo dos problemas e excluir nossas ações do olho do furacão? Não. Mais uma vez, detectores de metal não são soluções ambulantes. O que precisamos detectar vem antes das armas. Vem antes do ensino médio. Vem antes, e durante, a escola. Vem de casa, dos relacionamentos. Vem das reações. Dos motivos das reações. Vem dos nossos atos, da gasolina que jogamos sobre a miséria sentimental alheia. Não. Não metais. Detectores de outra coisa, desse invisível que torna tão complexa essa questão. Do que é ignorado, até crescer, explodir...e nos fazer impotentes. E nos fazer 190 milhões de feridos.